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Ciúme Retroativo: Por que algumas pessoas têm ciúmes do passado romântico de seus parceiros?

Atualizado: 30 de mai.

Pontos chave

  • O ciúme retroativo é uma resposta irracional;

  • Em geral, revela uma insegurança emocional do(a) parceiro(a);

  • O ciúme é uma manifestação inconsciente de posse e propriedade;

  • A autorreflexão pode ser fundamental para melhorar esse comportamento.

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Recentemente, enquanto assistia à série "Love is Blind" na Netflix, me deparei com um intrigante diálogo entre um casal que estava se conhecendo. Em questão de minutos, uma das pessoas começou a fazer uma série de perguntas sobre o passado de seu pretendente. O que começou com perguntas aparentemente simples logo se transformou em uma verdadeira inquisição, abordando temas complexos como o número de relacionamentos anteriores, a data da última experiência íntima, a frequência de encontros, e até mesmo se houve casos de traição. À medida que ouvia as respostas, o homem ficou submerso em um mar de ciúmes em relação ao passado de alguém que, tecnicamente, ainda não era sua namorada. Esse homem estava sofrendo de algo que poucos conhecem: a "Síndrome de Rebeca", também chamada de "ciúmes retroativo".


"O ciúme retroativo, ocasionalmente referido como TOC de ciúme retroativo , é uma forma distinta de ciúme intenso e irracional que um indivíduo sente em relação às experiências românticas e sexuais passadas de seu parceiro", diz Jourdan Travers, assistente social clínico licenciada, da Universidade de Maryland.


Ao contrário do ciúme convencional, que envolve preocupações com as ações atuais do parceiro, o ciúme retroativo surge apenas a partir das experiências passadas do parceiro em relacionamentos anteriores. Mas como é possível sentir ciúmes de um passado no qual não tivemos participação? De acordo com a pesquisa atual, o ciúme retroativo se caracteriza por três aspectos principais: (i) pensamentos obsessivos sobre o passado, (ii) questionamentos constantes e (iii) comparações. No entanto, há um elemento adicional que frequentemente passa despercebido nessa análise clínica e social: o sentimento de propriedade.


Apesar de resistirmos a admitir, o ciúme é uma emoção intrincada, que envolve insegurança, medo e preocupação. Em essência, esses sentimentos estão ligados à ideia de potencialmente perder algo valioso, algo que sentimos que nos "pertence," ou pelo menos acreditamos nisso. Portanto, o ciúme é uma complexa relação de propriedade, ampliando-se para a noção de posse sobre o outro. Em outras palavras, o ciúme que sentimos no presente está ligado à sensação de "posse" sobre o Outro (parceiro atual), enquanto o ciúme retroativo está associado à ideia de "propriedade." No entanto, como é que chegamos a ver nosso parceiro como uma espécie de propriedade? Como homens e mulheres percebem o ciúme retroativo?


1. O Outro como Propriedade

A ideia de ver o "Outro como propriedade" é complexa e, de certa forma, algo que a maioria das pessoas reprimem de forma inconsciente. No entanto, quando somos inundados por uma intensa emoção em relação ao passado de alguém, estamos, na realidade, expressando a crença de que não apenas possuímos o parceiro no presente, mas também detemos direitos sobre toda a sua história passada. O ciúme do passado funciona como um lembrete constante de que nosso parceiro nos deve lealdade, tornando os relacionamentos anteriores uma traição presente, tangível e real. Mesmo que possamos ser inseguros e até imaturos em nossos relacionamentos, isso não é a causa raiz do ciúme. Pelo contrário, o sentimento de ciúme está estreitamente ligado ao medo de perder algo que consideramos nosso. O ciúme não implica necessariamente a perda do outro, o que deixaria um vazio ou saudade, mas sim uma emoção automática que nos faz sentir que deveríamos ter exclusividade no desfrute do "Outro". Em resumo, é uma emoção que tem como pano de fundo o sentimento de posse sobre o outro. O corpo, os beijos, os abraços, a atenção, o presente, o passado e o futuro do outro existem para nosso deleite exclusivo, personalíssimo. Somente nós podemos decidir quando (ou se) essa conexão exclusiva chegará ao fim, e assim, optamos por abrir mão dessa "propriedade" com base em nossos próprios desejos. No entanto, as mulheres parecem levar essa análise de posse e propriedade a um nível mais profundo. Quando pensam nos parceiros do passado, algumas mulheres sentem como se seu amado tivesse sido de alguma forma magicamente profanado nos braços de outra pessoa.


2. A "Coisa" Usada não é mais desejada

Em algum momento, todos nós nos deparamos ou ouvimos a famosa expressão "essa é 'pra' casar" ou "essa é para apresentar à família". Mas o que está por trás dessa frase? É bastante simples! Ela se baseia na ideia de uma propriedade intocada, virginal, pura e imaculada, que não só deve ser conquistada, mas também exibida perante a família como um verdadeiro troféu. Essa intocável propriedade muitas vezes se confunde com a noção de castidade e virgindade. Assim, o ciúme retroativo se torna uma incessante obsessão em investigar possíveis transgressões passadas dessa propriedade. O ciumento anseia constantemente por assegurar que sua posse não possui falhas ocultas sob o véu de segredos do passado e de relacionamentos anteriores. Como se fosse o senhor de sua propriedade, o homem ciumento retroativo busca revisitar o passado de sua amada, procurando por concorrentes e até que ponto sua propriedade foi violada. Em sua mente estreita, perversa e infantil, qualquer coisa usada perde o valor, e, portanto, amores passados são considerados uma violação de seus direitos.


3. O Papel da Rejeição

O sentimento de propriedade não é o único fator que desencadeia o ciúme retroativo. A sensibilidade à rejeição desempenha um papel crucial na ativação dessa emoção. Um estudo publicado no Journal of Interpersonal Violence revela que pessoas altamente sensíveis à rejeição são especialmente suscetíveis a experimentar ciúmes em seus relacionamentos. A rejeição que alguém tenha vivenciado no passado pode torná-lo excessivamente sensível, deixando-o em constante alerta para o menor indício (às vezes, até imaginário) de que a pessoa amada possa deixá-lo ou trocá-lo por outra pessoa. Essa sensibilidade intensa pode levar a uma interpretação equivocada de ações ou palavras inocentes como indícios de rejeição. Isso dificulta a distinção entre preocupações legítimas e reações exageradas, e, no final das contas, intensifica o ciúme retroativo.


Conclusão

Não há dúvidas de que o ciúme retroativo pode causar danos significativos a um relacionamento atual. Os sentimentos de posse ou o temor da perda, juntamente com o medo da rejeição, são os principais fatores que desencadeiam essa emoção. No entanto, como podemos lidar com emoções que, teoricamente, não conseguimos controlar? De fato, não podemos simplesmente eliminar nossas emoções. O medo, a raiva, a dor e até mesmo o ciúmes são emoções intrínsecas à natureza humana. No entanto, podemos exercer controle sobre nossos sentimentos, e isso envolve a racionalização, ou seja, agir no nível consciente. Diante de um quadro de ciúme retroativo, é aconselhável:


  • Examinar Suas Emoções – O autoconhecimento é fundamental para manter um relacionamento saudável consigo mesmo e com o outro. Refletir sobre nossas emoções nos permite entender por que sentimos o que sentimos. Além disso, a autorreflexão ajuda a reconhecer nossos pontos fortes, aumentando a autoconfiança.

  • Resistir à Tentação de Vasculhar o Passado – Às vezes, o impulso de investigar o passado, especialmente quando não há sinais de alerta, pode proporcionar uma falsa sensação de alívio. No entanto, esse desejo denuncia nossa falta de autocontrole. Em vez de ceder a essa tentação contraproducente, pratique o autocontrole de forma proativa.

  • Compreender que Não Possuímos o Outro – A melhor maneira de lidar com o ciúme, seja retroativo ou atual, é perceber que o outro não é nossa propriedade, mas um ser humano livre que escolheu estar ao nosso lado de forma voluntária. Estar disposto a deixar partir quem é livre para ficar é essencial para evitar a objetificação do outro.

  • Reconhecer e Comunicar-se Abertamente – O autoconhecimento, aliado à honestidade, são ferramentas cruciais para lidar com a maioria dos desafios emocionais. Compartilhar seus sentimentos com seu parceiro, especialmente as lutas que enfrenta, pode melhorar a conexão entre vocês e permitir que seu parceiro compreenda sua perspectiva.

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